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10 Passos para Interpretar a Bíblia: Guia para a Interpretação Bíblica

Como interpretar a Bíblia? Uma obra profunda e complexa que pode, por vezes, causar intimidação ao ser lida. Com uma ampla gama de interpretações, inclusive aquelas propostas por estudiosos brilhantes, surge a dúvida: como podemos discernir a interpretação correta? Será que cada um de nós decide a verdade com base em nossas próprias percepções?

Se permitirmos que nossos pensamentos pré-concebidos influenciem a leitura, corremos o risco de distorcer o significado genuíno e não estaremos exercendo verdadeira fé em Deus. Em vez disso, estaremos submetendo Sua palavra aos nossos limites humanos e nossa sabedoria muitas vezes falha.

Reconhecemos nossa falta de onisciência e conhecimento limitado, o que levanta uma pergunta crucial: como podemos ter a certeza de que compreendemos corretamente o que Deus quis transmitir? Será que existe alguma abordagem para discernir as Escrituras de forma precisa?

Felizmente, existe uma resposta afirmativa. Embora toda interpretação humana possa conter algum grau de imperfeição, podemos minimizar essas falhas utilizando dez ferramentas fundamentais para o estudo da Bíblia, que nos auxiliam a compreender melhor sua mensagem e nos aproximam da verdadeira intenção divina.

Ore e busque a orientação do Espírito Santo ao estudar e interpretar a Bíblia

1. Ore e busque a orientação do Espírito Santo ao estudar e interpretar a Bíblia

Ao estudar e interpretar as Escrituras, é essencial lembrar que a Bíblia é a Palavra de Deus, e o próprio Deus é o seu Autor principal. Nesse sentido, a oração desempenha um papel crucial na compreensão das verdades bíblicas. Ao se aprofundar na leitura, é recomendado buscar a orientação do Espírito Santo, que é o intérprete divino que ilumina nossas mentes para entender a mensagem sagrada.

A oração nos conecta diretamente com Deus, permitindo que conversemos com Ele e compartilhemos nossas dúvidas e inquietações sobre a Bíblia. É uma prática humilde e essencial para evitar interpretações pessoais equivocadas ou enviesadas. Ao pedir o auxílio do Espírito Santo, reconhecemos nossa dependência de Deus e demonstramos nossa disposição em receber Sua sabedoria.

Ao combinar o estudo diligente da Palavra com a oração constante, a interpretação bíblica torna-se mais profunda, significativa e transformadora. O Espírito Santo guiará nossa mente e coração, revelando a verdade e a vontade de Deus, tornando a experiência de leitura e estudo da Bíblia uma jornada espiritual enriquecedora e edificante.

2. Interprete o significado do versículo ou passagem com base no contexto

Todos nós provavelmente já passamos por situações em que ouvimos apenas uma parte de uma conversa e tiramos conclusões equivocadas. Também sabemos que funcionários públicos e personalidades são frequentemente citados de forma errônea.

Mas talvez o exemplo mais cômico seja quando, durante nossos devaneios na escola, a professora nos chamou e demos uma resposta tão bizarra que a classe inteira caiu na gargalhada.

Se você fez aulas de literatura, entende como o contexto pode alterar o significado de uma palavra, frase ou expressão específica. O mesmo princípio se aplica às Escrituras. Por exemplo, você pode ter ouvido alguém citar Lucas 6:37, que diz: “Não julgue e você não será julgado“, para contradizer um ensinamento específico sobre determinado comportamento.

No entanto, quando lemos as palavras de Jesus no contexto, percebemos que Ele não está dizendo para evitar abordar o pecado, mas sim para nos certificarmos de olhar para nós mesmos em primeiro lugar. Devemos avaliar a trave em nosso próprio olho – aquele pecado, atitude, motivo ou equivoco – que está distorcendo nossa visão. Somente quando estivermos seguros de que podemos “ver claramente“, é que podemos tentar remover o cisco no olho de nosso amigo.

A lição presente na mensagem de Lucas 6, portanto, parece ser que não devemos nos concentrar tanto nos erros dos outros a ponto de esquecer os nossos próprios; em vez disso, devemos nos avaliar primeiro. Assim, se Deus nos chama para advertir alguém com amor, existe uma maior probabilidade de que estejamos realmente sendo guiados por Ele, e não por nosso orgulho ou “ofensa“.

Interprete um versículo ou passagem com base nas mensagens e verdades gerais das Escrituras

3. Interprete um versículo ou passagem com base nas mensagens e verdades gerais das Escrituras

A Bíblia se destaca por conter sessenta e seis livros individuais, abrangendo sete gêneros diferentes, que, surpreendentemente, narram uma história redentora coesa. Em cada narrativa, evangelho e epístola, podemos vislumbrar a presença de Jesus – a nossa necessidade Dele, a promessa de Sua vinda e o poder que Ele representa.

Tanto o Antigo Testamento revela nossa necessidade de um Salvador e anuncia Sua futura vinda, quanto o Novo Testamento evidencia o poder redentor de Deus desencadeado por Sua vinda. Através de cada página, Deus revela Seu coração, caráter, planos e promessas.

Da mesma forma que compreendemos palavras individuais em relação às suas sentenças e parágrafos, cada versículo e passagem da Bíblia se conecta à mensagem geral da Escritura. Quando nos deparamos com um versículo ou narrativa específica, algumas perguntas básicas nos auxiliam na interpretação:

  1. O que esta passagem revela sobre a condição humana?
  2. O que ela nos mostra sobre Deus – Sua natureza, Seu coração e Seus planos?
  3. Como essa passagem indica a forma como a humanidade deve se relacionar com Deus e entre si?
  4. De que maneira esse trecho aponta para Jesus?

4. Analise Repetições de Palavras e Frases nas Escrituras

Um antigo editor costumava repetir: “Faça cada palavra lutar para estar lá.” Ele queria transmitir a importância de não desperdiçar espaço na página com elementos desnecessários. Bons escritores selecionam cuidadosamente os verbos, anedotas e detalhes que dão ênfase ao ponto de vista ou aprofundam a narrativa. A repetição é evitada, a menos que seja essencial.

Quando palavras são repetidas em qualquer literatura, incluindo as Escrituras, isso não ocorre por acaso. Cada repetição possui um propósito significativo. É essencial considerar cada repetição – primeiro dentro de uma frase específica, depois numa passagem e, por fim, em todo um livro – como um sinal para fazer uma pausa e realizar uma avaliação mais profunda.

Um exemplo disso pode ser encontrado em 1 João 1:5-7:

“Esta é a mensagem que ouvimos dEle e proclamamos a vocês: Deus é luz; Nele não há escuridão alguma. Se dissermos que temos comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não vivemos na verdade. Porém, se andarmos na luz, assim como Ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”

Nessa breve passagem, o autor João repete a palavra “luz” três vezes e “escuridão” duas vezes. Se continuarmos lendo, perceberemos como João expande esse contraste entre luz e escuridão, bem como a distinção entre uma vida de obediência e uma vida de pecado.

Estude o Contexto Histórico da Passagem Bíblica e seu Público Original

5. Estude o Contexto Histórico da Passagem Bíblica e seu Público Original

Considere o livro de Romanos, repleto de doutrinas que revelam a santidade de Deus, a depravação do homem à parte dEle e a redenção que temos em Cristo. Por meio das cartas de Paulo aos antigos romanos, recebemos uma apresentação clara do evangelho. Ao levar isso em conta, podemos supor que Paulo escreveu para evangelizar um grupo de incrédulos.

Entretanto, Paulo estava direcionando suas palavras a outros cristãos. Esses crentes romanos não precisavam aprender como receber a Cristo; eles precisavam entender como descansar Nele. Os crentes judeus que se apegavam à circuncisão precisavam perceber que a lei do Antigo Testamento não os salvara e não poderia salvá-los.

Eles vieram a Cristo da mesma forma que seus irmãos e irmãs gentios – por meio da fé. Já os crentes gentios, que estavam sendo pressionados a seguir a lei, precisavam de segurança e do lembrete de que sua salvação não dependia de nada que eles tivessem ou não tivessem feito, mas sim do que Cristo havia feito por eles.

Compreender o contexto histórico adiciona profundidade e beleza a esta carta antiga, lembrando-nos do poder salvador, transformador e preservador da graça.

6. Procure saber sobre o escritor bíblico

Considere o livro de Gênesis, conhecido como o livro dos primórdios, escrito por Moisés, um príncipe hebreu que se tornou pastor e libertador. Nesta narrativa histórica, vemos a revelação do Deus Criador a um povo que provavelmente não tinha qualquer conceito sobre Ele. Este povo passou suas vidas escravizados em uma terra estrangeira, cujos habitantes adoravam desde o sol e a terra até os besouros!

Moisés, então, iniciou desde o princípio. Por meio do relato da criação, ele revelou Elohim, o começo soberano de todas as coisas, onipotente, onisciente e onipresente. Vemos esse Deus Santo chamando a humanidade para Si mesmo, assim como fez por meio de Moisés, convidando Seu povo a uma vida piedosa.

Quando os humanos falham em viver de acordo com Seu padrão, Deus permanece fiel e verdadeiro. Nada, nem mesmo o pecado e a rebelião do homem, pode frustrar Seus planos.

Busque as palavras originais

7. Busque as palavras originais em grego ou hebraico e entenda o significado delas dentro do contexto

A linguagem está em constante evolução e, portanto, as definições mudam com o tempo. Uma palavra, como “tela”, pode ter várias conotações dependendo da maneira como é utilizada. Isso também é válido para o hebraico e, embora os estudiosos se esforcem para encontrar o equivalente em português, alguns significados mais profundos se perdem na tradução.

Tomemos como exemplo 1 Timóteo 2:1. Na NVI, lemos:

“Peço-vos, então, antes de tudo, que petições, orações, intercessão e ação de graças sejam feitas por todas as pessoas…”

Uma leitura simples nos revela claramente o que Paulo está transmitindo aqui. E essa é a beleza da Escritura. Ela é escrita de forma acessível para que todos, independentemente do nível de leitura, possam compreender a mensagem de Deus. No entanto, imagine como seu apreço pela exortação de Paulo poderia aumentar se investigássemos o significado por trás da palavra grega “pakaleó“.

Traduzida como “incitar“, essa palavra significa suplicar ou pedir com intensidade, e traz a conotação de alguém caminhando ao lado de outro como um advogado ou ajudante. No exército grego, soldados emparelhados, chamados Paracletes, permaneciam lado a lado, de modo que nenhum inimigo pudesse atacá-los por trás. É como se Paulo estivesse dizendo a Timóteo, o pastor que enfrentava perseguição fora de sua igreja e divisões e falsos ensinamentos internos:

“Peço-lhe que faça isso. Sei que nem sempre será fácil…” assim como ele orou por seus perseguidores, talvez? “…Mas estou ao seu lado!”

8. Leia versículos e passagens em diferentes traduções

Algumas palavras e frases não têm o mesmo sentido quando traduzidas com exatidão. Imagine ter a seguinte conversa com alguém de outro idioma. Ela pergunta como você está e você responde: “Aguentando firme”. Traduzindo exatamente, ela pode imaginar você balançando em um galho de árvore.

Cada idioma tem suas próprias expressões idiomáticas, hipérboles e eufemismos que, quando expressos em uma língua diferente, podem resultar em confusão. Os estudiosos da Bíblia devem decidir, então, quando traduzir palavra por palavra versus transmitir o pensamento geral. Algumas traduções, como a ACF, concentram-se mais em uma tradução palavra por palavra; outros, como a NTLH, traduzem pensamento por pensamento; e outros ainda, como a NVI, tentam fundir ambos.

Por causa disso, é útil ler o mesmo versículo ou passagem em várias traduções. Isso geralmente fornece uma compreensão mais completa do significado das palavras.

Use comentários bíblicos

9. Use comentários bíblicos

Quando me deparo com uma passagem em que não tenho certeza do que Deus pode estar tentando dizer, costumo ler as reflexões de pessoas mais inteligentes e instruídas do que eu. Numerosos sites da Bíblia oferecem comentários escritos por teólogos brilhantes, como João Calvino, John Wesley e outros renomados, permitindo que os leitores considerem diferentes pontos de vista sobre um versículo específico ou tópico. Se percebermos que nossa interpretação difere da de todos os outros, há uma boa chance de estarmos equivocados.

Esses comentaristas frequentemente também citam outras passagens relacionadas, mostrando como um determinado versículo ou doutrina se encaixa na totalidade da Escritura. Alguns até apresentam fatos históricos interessantes. Por exemplo, durante a época de Ester, a rainha (como Vashti) era “isolada do olhar público”, como mencionado por Jamieson, Fausset e Brown.

Leia também: 4 métodos de estudo bíblico que você precisa conhecer

10. Estude outras passagens bíblicas relacionadas

Ao usar Romanos como outro exemplo, notamos uma rica história da mensagem redentora de Deus entrelaçada ao longo do Antigo Testamento. Paulo discute diversos temas, desde a criação, a lei, o simbolismo revelado na história de Abraão e muito mais.

Além disso, ele cita ou faz referência a inúmeras outras passagens, como Isaías 52:5, Salmo 51:4 e Gênesis 25:23. Ao reservarmos um tempo para ler essas diferentes narrativas e versículos referenciados, que frequentemente podem ser encontrados nas notas de rodapé da Bíblia, obtemos uma compreensão mais ampla e profunda do texto e do tópico.

A Bíblia é um livro vivo e atemporal que tem transformado vidas, preservado por inúmeras gerações por um Deus que constantemente se revela a si mesmo e sua vontade para as pessoas que ele ama.

Sempre que nos aproximamos de Sua Palavra com um coração aberto e expectante, seja avaliando cada palavra ou simplesmente refletindo sobre o significado de uma passagem, O encontraremos. É nesse encontro que ocorre a mudança de vida – liberdade, cura e crescimento.

Sobre o Autor

Andre Lourenco
Andre Lourenco

Bacharel em Teologia e tecnólogo em Gestão da Qualidade, André possui mais de 15 anos de experiência na pregação. Autor de cursos de homilética e hermenêutica, também leciona na EBD.

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